Ela tinha quinze
anos, assim como eu, quando chorou porque tirou oito na prova de física. Eu, de
frente para ela, sem entender nada. Eu, que estaria pulando de alegria se
tirasse um oito em uma prova de física. Eu, para quem a física não passou dos
cálculos para sabermos, afinal, em que ponto da estrada os carrinhos A e B se
encontrariam. E ela chorando. Por quê?, eu perguntei com irritação na voz, você
tirou oito! E ela, rosto vermelho de lágrimas: essa nota pode atrapalhar meus
planos para estudar medicina, você não entende. Não entendia mesmo. Não entendi
nada. O vestibular era dali a dois ou três anos, eu não tinha a mais mínima ideia
de qual profissão escolher; eu, que aos sete queria ser empregada doméstica,
aos oito bailarina, aos nove professora, aos dez professora de inglês, aos onze
aeromoça, aos doze guia turística, aos treze diplomata e dos quatorze aos
dezoito só queria mesmo saber de beijar os meninos bonitinhos da cidade, mesmo já estudando Comunicação Social desde os dezessete.
Portanto, eu estava na fase do beijo e das festas e ela já preocupada, há muito
tempo antes, com seu objetivo principal: ser médica. Parei. Era admirável, para
mim, imediatista, ver alguém pensar com tanta antecedência. Eu, que entre a
porta de casa e a padaria a três quarteirões, já pensei em mais três profissões
para exercer. Eu, que entre o quarto e o banheiro, faço um desvio para a
cozinha, depois para a lavanderia e depois para a sala e não me lembro mais
para onde estava indo quando saí do quarto. Eu, que começo o dia determinada a
fazer meu negócio crescer e vou dormir pensando que talvez ainda dê tempo de me
tornar astronauta – ou psicanalista. E ela, chorando na minha frente, sabendo
desde criança o que queria e o que deveria fazer para chegar lá. Em vez de
chorar, vamos para uma festa! (sempre havia uma) – tentei animá-la, ao que ela
chorou ainda mais: não sabia ir a festas, não sabia o que fazer em uma festa e
era feia. Puxei-a para um espelho, fiz ela olhar bem para a cara dela, enchi-a
de beijos enquanto dizia “mas olha como você é linda!” E fomos para uma festa.
Se não exatamente naquele dia, em outro. E em outros, sem que ela perdesse o
foco da medicina, que cursou, em uma das melhores faculdades do país (e eu
estava lá, de mãos dadas com ela, esperando o resultado), mas não concluiu,
porque a vida é besta. Eu, sem perder o foco das festas, entendi que não
precisava ser reprovada na maioria das matérias para poder frequentá-las, ainda
que sem a certeza da medicina ou do que quer que fosse (até hoje).
Passando para desejar um maravilhoso 2017 cheio da presença de Deus, paz, amor, alegria e tudo de melhor!
ResponderExcluirBj e fk c Deus
Nana
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