Travaram: meus ouvidos, minha garganta, minhas costas.
Sobrou-me a visão, por isso pintei as unhas de vermelho sangue. Olfato nunca
tive, não sei se é capim-santo ou lima-limão. Preciso da cama, das cortinas
fechadas, do céu plúmbeo caindo nas nossas cabeças. Dei dinheiro para o mendigo
da esquina, para o malabarista do semáforo, para a Anistia Internacional, para
o Médico sem Fronteiras, para o Abrigo da Tia Vivi, para a Casa de Repouso Viva
Melhor, que levem, que me levem, que me deixem, apenas me deixem, não me peçam
mais nada, não me mostrem as nossas misérias e as nossas hipocrisias, não me
digam mais que acabou o alface para o almoço e a carne para a janta. Preciso só da
cama e dos meus olhos nas minhas unhas vermelho sangue.
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