É domingo.
Vejo tudo mais próximo, desprotegida da lataria e dos vidros do carro, sem ar
condicionado, sem notícias apocalípticas cuspidas pelos jornalistas, a passos
rápidos que vão se tornando cada vez mais lentos para que eu não perca nenhum
detalhe da senhora gorda e grisalha que se espreme na varanda repleta de
plantas enquanto fuma um cigarro, dos parentes a rir em volta da mesa da sala
de paredes cor de rosa, da mãe que passava roupa com a ajuda de cinco filhos,
quer dizer, de três, porque um mal andava com a chupeta entre a boca e o nariz
e uma seguia o irmãozinho que mal andava com a chupeta entre a boca e o nariz,
do homem que bebia cerveja sentado na janela do seu quarto na pensão, enquanto
olhava o colega jogando roupas numa mala, da mulher que resolveu esvaziar o
guarda-roupa e espalhar todas as suas vestimentas pela cama e pelo chão, da
criança que assistia a um desenho na tevê, do velho barrigudo que limpava
parafusos, do casal que arrumava a cama, de tantos passarinhos na gaiola que parei de contá-los enquanto caminhava a passos lentos para não perder nenhum detalhe
da vida exageradamente humana numa tarde de domingo.
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