João Silvério
tomou o último gole e levantou-se, derrubando a cadeira. Cambaleou até a porta
do bar e, com o polegar direito erguido, avisou ao dono do estabelecimento que
pagaria depois. Na calçada, viu Rosemeire, a Rose, sempre à espera de uma
oportunidade. Os filhos dela, um menino com dois anos e uma menina com quatro,
estavam sentados aos pés da mãe, que vestia calça jeans surrada, blusa de lã
branco encardido e chinelos de dedo.
João emitiu um
grunhido e Rose passou a caminhar ao lado dele. As crianças atrás, de pés
descalços e mãos dadas. Caminharam até a chácara onde João trabalhava como
caseiro. Ele não conseguiu encaixar a chave na fechadura. Rose ajudou. As
crianças reclamaram de cansaço. Rose deu uma bofetada na menina e um beliscão
no braço do menino.
Entraram e
ficaram na sala. Rose e João com as calças abaixadas até os joelhos, ela jogada
no sofá, ele por cima. As crianças sentadas no chão, em frente, reclamaram de
fome. Rose jogou João para o lado, deu mais uma bofetada na filha e um beliscão
no filho. Voltou para o sofá e colocou João por cima dela de novo – não estava
tão bêbado. Ele riu quando gozou. Rose jogou-o novamente para o lado, disse que
ele fedia como porco, subiu a calça e esticou a mão. Vai, vinte aí, olha essas crianças reclamando de fome. A menina
disse que queria ir embora, o menino chorou. E antes de pegar os vinte reais e
um maço de cigarros que viu sobre a mesa de centro, Rose deu mais uma bofetada
e um beliscão.
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