Vire à esquerda, disse o GPS, mas eu
estava na direita, ele disse vire à esquerda em cima do momento de virar, não
consegui, não queria causar um tumulto, ainda que pequeno, pode não ser crível,
mas não gosto de confusão, e o GPS seria capaz de recalcular meu erro, tão bom
poder recalcular rotas erradas, em segundos, com voz limpa e metálica; então
virei à direita mesmo, vamos ver onde vai dar, e deu em uma rua onde ainda há
uma loja que minha avó frequentava durante a minha infância. Em toda temporada
na casa dos avós paternos minha avó me pegava pela mão, e assim me levava pelo
ônibus até a loja que vendia, e ainda vende, sapatos femininos. Não consigo me
lembrar da minha avó me comprando sapatos, devia comprar para ela, sapatos sem
graça de avó nascida no início do século XX, mas a loja era gigante, e não só
para meus olhos infantis, posso constatar com olhos crescidos, e tinha cheiro
de festa, de férias, de carinho de vó, e eu ali perdida, lembrando de suas mãos
calosas de tantos anos em máquinas têxteis, sem escutar o GPS que recalculava a
minha rota, sem poder me pegar pelas mãos como minha avó fazia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário