quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Recalculando

Vire à esquerda, disse o GPS, mas eu estava na direita, ele disse vire à esquerda em cima do momento de virar, não consegui, não queria causar um tumulto, ainda que pequeno, pode não ser crível, mas não gosto de confusão, e o GPS seria capaz de recalcular meu erro, tão bom poder recalcular rotas erradas, em segundos, com voz limpa e metálica; então virei à direita mesmo, vamos ver onde vai dar, e deu em uma rua onde ainda há uma loja que minha avó frequentava durante a minha infância. Em toda temporada na casa dos avós paternos minha avó me pegava pela mão, e assim me levava pelo ônibus até a loja que vendia, e ainda vende, sapatos femininos. Não consigo me lembrar da minha avó me comprando sapatos, devia comprar para ela, sapatos sem graça de avó nascida no início do século XX, mas a loja era gigante, e não só para meus olhos infantis, posso constatar com olhos crescidos, e tinha cheiro de festa, de férias, de carinho de vó, e eu ali perdida, lembrando de suas mãos calosas de tantos anos em máquinas têxteis, sem escutar o GPS que recalculava a minha rota, sem poder me pegar pelas mãos como minha avó fazia. 

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