quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Meu Norwegian wood - o filme

Uma mão segurou meu braço com força. Dança comigo, ele ordenou. Eu?, perguntei ríspida. Não, eu, ele respondeu. Grosso, pensei, mas antes de terminar o pensamento ele já tinha entrelaçado os dedos dele nos meus. Bandeira branca amor eu peço paz. Estávamos num baile de carnaval e começamos uma dancinha ridícula ao som das marchinhas, as mãos entrelaçadas e os pés batendo como índios na dança da chuva. Foi bom te ver outra vez tá fazendo um ano foi no carnaval que passou. Ele estava sem camisa e já naquela idade eu achava um ultraje qualquer homem andar sem camisa por aí. Se eles não gostam de ver mulher gorda, por exemplo, de biquíni, nós também não gostamos de ver tantos pelos e gordura localizada expostos. Pelo menos ele não tinha pelos no peito. Mas tinha umas sobrinhas nas laterais da barriga que balançavam por causa da dancinha ridícula. Foi a camélia que caiu do galho deu dois suspiros e depois morreu. Então tirei meu olhar da barriga e procurei os olhos desse desconhecido. Eram escuros, tão escuros que mal se via a pupila. Eles brilhavam. Tinham sede e fome. Como se soubessem que ficariam pouco por aqui, tudo tinha que ser visto com muita intensidade. Não era tarefa fácil mirá-los. Três anos depois, eu os vi sendo enterrados. Eles sabiam. 

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