quarta-feira, 15 de julho de 2015

Desgraçadas

Porque a cada criança suja e desgrenhada que vejo na calçada ou na rua, no colo da mãe, no colo na avó, no colo do irmão mais velho, sem colo nenhum, com pacotes de balas, com panos de prato, com as mãos em concha, com lábios de fome e cor de abandono eu tomo um murro no estômago. E com esse murro no estômago nada faço, a não ser sentir a dor. Não compro as balas porque quantas balas eu preciso comprar? Não roubo a criança e digo para a mãe “vou levar e vou cuidar” porque não roubo crianças de suas mães, por mais que batam e xinguem e abusem, e porque não teria onde colocar todas as crianças roubadas que eu não roubarei mesmo. Não estendo a mão para a mãe e digo “venham comigo” porque estou com pressa apesar de não saber para onde ir com ou sem a mãe e seus filhos. Não faço nada porque sou uma covarde que só sabe sentir a dor e porque talvez eu seja só mais uma mãe sentada na calçada com os filhos no colo sem saber a quem pedir um olhai por nós. 

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