Porque a cada
criança suja e desgrenhada que vejo na calçada ou na rua, no colo da mãe, no
colo na avó, no colo do irmão mais velho, sem colo nenhum, com pacotes de
balas, com panos de prato, com as mãos em concha, com lábios de fome e cor de
abandono eu tomo um murro no estômago. E com esse murro no estômago nada faço,
a não ser sentir a dor. Não compro as balas porque quantas balas eu preciso
comprar? Não roubo a criança e digo para a mãe “vou levar e vou cuidar” porque
não roubo crianças de suas mães, por mais que batam e xinguem e abusem, e
porque não teria onde colocar todas as crianças roubadas que eu não roubarei
mesmo. Não estendo a mão para a mãe e digo “venham comigo” porque estou com
pressa apesar de não saber para onde ir com ou sem a mãe e seus filhos. Não
faço nada porque sou uma covarde que só sabe sentir a dor e porque talvez eu
seja só mais uma mãe sentada na calçada com os filhos no colo sem saber a quem
pedir um olhai por nós.
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