Tirei os tapetes da casa. Todos, até os capachos, mas não
estava embaixo deles. Uma semana depois tirei as cortinas, mas também não
estava escondida atrás delas. Abri as gavetas, esvaziei uma por uma, e também
nelas não encontrei. Afastei as camas, tirei os lençóis, as fronhas, depois os
colchões, e nada. Chegou a vez dos armários: primeiro os dos quartos, depois da
cozinha e do banheiro, por último o da lavanderia; em nenhum vi o que
procurava. Resgatei as malas há tantos anos não usadas. Todas vazias. As bolsas
também, assim como o interior dos sapatos. Descolei os espelhos, arrebentei os
colares, queimei os livros e os diários. Esvaziei a geladeira e o freezer,
quebrei alguns pratos e todos os copos, menos um. Deixei a televisão na rua.
Pulei em cima do computador até transformá-lo em pó. Dei para uma moradora da
rua todas as maquiagens. E para outra os perfumes. Libertei a calopsita. Joguei
no lixo a gaiola. Descasquei as paredes, deixei na calçada os vasos de plantas.
Rasguei o sofá e as almofadas. Tirei a roupa, os brincos e os anéis, os
sapatos. Soltei o cabelo e coloquei os óculos, mas, mesmo assim, não me
encontrei.
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