domingo, 22 de novembro de 2015

Procura-se


Tirei os tapetes da casa. Todos, até os capachos, mas não estava embaixo deles. Uma semana depois tirei as cortinas, mas também não estava escondida atrás delas. Abri as gavetas, esvaziei uma por uma, e também nelas não encontrei. Afastei as camas, tirei os lençóis, as fronhas, depois os colchões, e nada. Chegou a vez dos armários: primeiro os dos quartos, depois da cozinha e do banheiro, por último o da lavanderia; em nenhum vi o que procurava. Resgatei as malas há tantos anos não usadas. Todas vazias. As bolsas também, assim como o interior dos sapatos. Descolei os espelhos, arrebentei os colares, queimei os livros e os diários. Esvaziei a geladeira e o freezer, quebrei alguns pratos e todos os copos, menos um. Deixei a televisão na rua. Pulei em cima do computador até transformá-lo em pó. Dei para uma moradora da rua todas as maquiagens. E para outra os perfumes. Libertei a calopsita. Joguei no lixo a gaiola. Descasquei as paredes, deixei na calçada os vasos de plantas. Rasguei o sofá e as almofadas. Tirei a roupa, os brincos e os anéis, os sapatos. Soltei o cabelo e coloquei os óculos, mas, mesmo assim, não me encontrei.

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