Não tenho lugar. Na sala, uma tevê ligada em ruídos. No
quarto, uma meia-pessoa já dorme. Na cozinha, uma pia de louça suja que ninguém
lava. No banheiro, ele vomita. Na varanda, de onde penso em me atirar para uma
cidade que não conheço. Terminar a noite num quarto de hotel com um homem cujo
nome vou esquecer na manhã seguinte. Não me importo, eu mesma vou dizer muito prazer, me chamo Laura. Falarei bom
dia numa língua desconhecida, no primeiro café que avistar pela rua. Pode fazer
frio. Pode fazer calor. A cidade pode ser rica. Pode ser pobre. Feia ou bonita.
Só precisa ter ruas nunca pisadas por mim. O filme ficou pela metade, o livro
ficou pela metade, o almoço ficou pela metade, o xixi ficou pela metade, o sono
ficou pela metade, o banho ficou pela metade porque tudo que faço fica pela
metade. Há sempre uma febre, há sempre uma fome, há sempre uma dor, há sempre
uma sujeira, há sempre uma bagunça, há sempre uma urgência alheia que não me
deixa chegar ao fim de mim. Não suporto shopping
centers, não suporto resorts all
inclusive, não suporto parkings e
sales, preciso ir para onde haja
ainda alguma verdade. Ou autenticidade já bastaria?
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