quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Pax


Eu devia ter ido ao cemitério hoje, e não, não pelo simbolismo, pela concretude mesmo. Porque foi lá, lá, que te vi pela última vez, com a certeza de que seria a última, mesmo que você não tenha me visto segurar tuas mãos, mesmo que você não tenha segurado as minhas de volta, mesmo que você não tenha sentido meus lábios nos teus, mesmo que você não tenha sentido o carinho que fiz no teu rosto e não tenha me visto tirando uma mecha de cabelo da tua testa, eu, sim, vi tudo e ainda trago todas as peças desse quebra-cabeça desmontado na retina, nas mãos e nos lábios. Não me importa se não era mais você ali, como alguém gritou para mim, importa só que para mim (ainda) era a última vez que te vi, com a camisa azul clara e uma calça que imaginei jeans por baixo das flores. Margaridas? Isso não sei mais, elas fediam. Mas foi lá a última vez que te vi, e por isso eu devia ter ido hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário