terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Hoje


Travaram: meus ouvidos, minha garganta, minhas costas. Sobrou-me a visão, por isso pintei as unhas de vermelho sangue. Olfato nunca tive, não sei se é capim-santo ou lima-limão. Preciso da cama, das cortinas fechadas, do céu plúmbeo caindo nas nossas cabeças. Dei dinheiro para o mendigo da esquina, para o malabarista do semáforo, para a Anistia Internacional, para o Médico sem Fronteiras, para o Abrigo da Tia Vivi, para a Casa de Repouso Viva Melhor, que levem, que me levem, que me deixem, apenas me deixem, não me peçam mais nada, não me mostrem as nossas misérias e as nossas hipocrisias, não me digam mais que acabou o alface para o almoço e a carne para a janta. Preciso só da cama e dos meus olhos nas minhas unhas vermelho sangue.



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