quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Super Avós


A novidade na rua era o videocassete que o vizinho havia trazido dos Estados Unidos, um país mais moderno que o nosso, onde todos podiam comprar tudo que a gente nem imaginava que existia. Bom...a novidade na rua era o videocassete que o vizinho havia trazido dos Estados Unidos junto com um filme: Superman. Ou Super Homem.

Fomos convidados para a sessão com baldes de pipoca. Fomos eu e meus pais. Eu entre eles, de mãos dadas com os dois. No caminho, meu pai me explicou: não conte nada para ninguém, mas o filme que veremos agora conta a minha história. Eu sou o Super Homem. Mas é segredo. Minha mãe calada. Naquela época, eu acreditava que quem cala consente.

Grudei os olhos na pequena e chuviscada tela do aparelho de TV. Nem me lembrei da pipoca. Voltei para casa muda. O que mais me desconcertou foi descobrir que meus avós paternos não eram mesmo os meus avós. E eu gostava tanto deles, principalmente do meu avô. Por mais bacana que aquele homem de cabelo e roupas brancas parecesse ser, eu queria o meu avô. O homem de branco nunca me levaria de cavalinho para lavar as mãos, nem me daria chocolate antes da janta. Fiquei triste por ele. E pela minha avó, tão dedicada preparando a lasanha aos domingos. Eles agiam como se não soubessem. Até o último dia, se comportaram como se fossem os pais biológicos do meu pai. Eu, nunca contei nada para eles. Nunca.

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