segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma maçã para os meus professores



Interior de São Paulo. Ainda não tínhamos saído da ditadura e a professora de História recém chegada das Minas Gerais disse que não adotaria nenhum livro. Há muita mentira nos livros escritos nos últimos anos, foi mais ou menos o que ela falou para uma classe de pré-adolescentes. Meus olhos se arregalaram. Para sempre, creio eu.
 
 
A de Português nos fazia viajar toda semana pelas páginas da National Geographic. Queria que aprendêssemos a escrever e semanalmente nos pedia um bilhete, além da redação. Podíamos escrever sobre qualquer coisa que nos tivesse acontecido. Ela guardaria segredo se fosse preciso. Eu confessava minhas dores de amor, ela me dava conselhos. Quando eram muitas meninas a sofrer (sim, porque nós sofremos tanto por amor), ela parava a aula, mandava os meninos para o futebol (sim, porque o futebol resolve muita coisa, ou quase tudo, para os meninos), pedia para sair uma pipoca da cozinha e nos ouvia. Comíamos, falávamos,chorávamos e ríamos sentadas no chão da classe. Ela explicava para a coordenadora que essas aulas não eram perdidas. Ela, que reconheceu o erro ao tentar fazer crianças de dez ou onze anos ler Capitães da Areia, que fui ler alguns anos depois. Parem, vocês ficarão com uma impressão equivocada do Jorge Amado. Achei lindo isso.
 
A chegada ao Colegial e a uma nova escola. Eu, que tinha por lema you can always retake a class but you can never relive a party, acordava animada aos sábados para ter aulas de Matemática. O único professor que me fez entender que Matemática não era uma grande decoreba. Em seguida, as aulas de História com o professor que só aumentou minha paixão pela matéria. Ele, que desenhava pessimamente o exército de Napoleão. Eram tantos soldados que da lousa passava para a parede. Ele, que num final de ano, com o programa já cumprido, viu um jornal espalhado numa cadeira e nos deu uma aula sobre a história do Estado e da Folha. Até hoje, não consigo ler esses jornais sem pensar nele. E o professor de Biologia, que estaria à toa numa tarde de sexta-feira e ofereceu uma aula sobre cobras, matéria que não cairia na prova. Alguns alunos tiveram que sentar no chão do anfiteatro. Sim, era sexta-feira. Sim, fora do horário letivo. Sim, a matéria não cairia na prova. E era verão.
 
Na faculdade de Direito, entre tantos interessados apenas no salário no fim do mês, o professor de Direito Civil, responsável pela minha vontade de me tornar professora dessa mesma matéria. Se eu conseguir despertar o amor pelo Direito Civil em pelo menos um aluno, como ele fez comigo, já terá valido a pena. O que ele tinha de especial? Nada. Era apenas consciencioso.
 
E agora, minha mestra querida e respeitada, na árdua e deliciosa tarefa de me ajudar a achar meu caminho na Literatura, minha paixão primeira. Aquela que torna minhas segundas o dia mais esperado da semana, quem diria! (estou envelhecendo)
 
Maraísa, Ângela, Francis, Gian, Edu, Bedone, Noemi. Esses são os Professores que eu faço questão de nomear. Sempre.


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