quinta-feira, 28 de março de 2013

Instantâneos


E lá estava ele, sozinho, sentado num dos bancos da praça, hoje gritando não aguento mais Miojo, não aguento mais Moët & Chandon, não aguento mais caviar. Eu ri. Ri porque pensei no meu marido que também não deve mais aguentar Miojo. Ri porque eu mesma não aguento mais Miojo, mas ainda aguento Moët & Chandon e não gosto de caviar. Que bom! Um gosto caro a menos. E enquanto eu ouvia e ria, o gari, um homem negro de cabelos brancos, alto e magro, me disse que é assim o dia inteiro. E sorriu. E eu sorri de volta. E fiquei com vontade de abraçá-lo e agradecê-lo por limpar as ruas e por falar comigo com os lábios sorrindo. Fiquei com vontade de gritar que eu também não aguento mais Miojo. E não fiz nada disso. Agora estou aqui, só com o meu arrependimento e com os lactobacilos vivos que ingeri antes de cruzar a praça.

Um comentário:

  1. Você sempre me surpreende, por isso não me canso em dizer: gosto como conduz seus textos. Sua urbanidade tem poesia... ou seria o contrário?!

    Abraços, sempre!!!

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