sexta-feira, 8 de março de 2013

Unhas dos pés


No domingo o despertador não tocava e ela acordou às dez. Ele não estava na cama e ela aproveitou para rolar para o lado vazio. Esticou as pernas, jogou-as para o alto, sentiu vontade de dar uma cambalhota, mas não se arriscou. Abriu os braços até sentir os ossos estalarem. Sorriu. Fazia sol. Pegou o celular no criado-mudo, pensou em acessar o Facebook, mas domingo de manhã é sempre igual: todos seus amigos estão felizes nos parques da cidade. E se não estão, mentem. Levantou, jogou água corrente no rosto, prendeu os cabelos – ele detestava quando ela aparecia na sala descabelada, escovou os dentes – ele reclamava quando ela aparecia na sala com a boca de quem acabou de acordar, e foi para a sala, mas ele não estava. Na mesa da cozinha, uma garrafa térmica com café fresco e um bilhete: “Cansei. Você não corta as unhas dos meus pés”. Leu três vezes, sem café, e voltou para o quarto para abrir o guarda-roupa. Era verdade. Antes de chorar, sentou na cama e olhou para suas próprias unhas dos pés, sem corte e com esmalte carcomido há duas semanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário