No domingo o
despertador não tocava e ela acordou às dez. Ele não estava na cama e ela
aproveitou para rolar para o lado vazio. Esticou as pernas, jogou-as para o
alto, sentiu vontade de dar uma cambalhota, mas não se arriscou. Abriu os
braços até sentir os ossos estalarem. Sorriu. Fazia sol. Pegou o celular no
criado-mudo, pensou em acessar o Facebook, mas domingo de manhã é sempre igual:
todos seus amigos estão felizes nos parques da cidade. E se não estão, mentem.
Levantou, jogou água corrente no rosto, prendeu os cabelos – ele detestava
quando ela aparecia na sala descabelada, escovou os dentes – ele reclamava
quando ela aparecia na sala com a boca de quem acabou de acordar, e foi para a
sala, mas ele não estava. Na mesa da cozinha, uma garrafa térmica com café
fresco e um bilhete: “Cansei. Você não corta as unhas dos meus pés”. Leu três
vezes, sem café, e voltou para o quarto para abrir o guarda-roupa. Era verdade.
Antes de chorar, sentou na cama e olhou para suas próprias unhas dos pés, sem
corte e com esmalte carcomido há duas semanas.
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