No meu primeiro ano como estudante universitária e moradora
de São Paulo, numa das minhas muitas viagens de ônibus pela cidade, sentei-me
ao lado de um menino então com cinco ou seis anos de idade, acompanhado de um
homem não tão jovem quanto eu. Enquanto eu me distraía pela janela (não
tínhamos as cabeças voltadas só para os celulares, nem mesmo havia os
celulares), o garoto esticou um walkman ou um discman (não me lembro exatamente
o que usávamos para ouvir música naqueles anos) para o homem: pai, coloca Jethro
Tull pra mim? Aqui a gente ouve música boa, foi a resposta do homem para o meu
sorriso arregalado.
Desde então a imagem daquele menino me invade quando estou
parada no trânsito, ou caminhando, ou ouvindo música que não é mais Jethro
Tull, ou tomando sorvete, ou trabalhando, ou vendo meus filhos brincarem, ou
jogando Candy Crush. E hoje, numa dessas invasões, eu descobri, não sem susto,
que aquele menino não é mais um menino. Aquele menino nem é mais um
adolescente. Aquele menino deve ter a idade que o pai dele tinha quando sorriu
para mim e as perguntas e inquietações que me rondavam naquele ônibus continuam
aqui.
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