quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Cotidiano

Quando entrava em casa, não era da figura dele no sofá a esperando o que ela mais sentia falta. Nem da salada que ele deixava pronta na geladeira porque ela gostava da alface geladinha.  Nem da conversa sobre como foi o seu dia enquanto eles comiam e depois lavavam a louça. Não era do perfume. Nem dos olhos acirrados nas páginas do jornal, nem da língua para fora da boca enquanto cortava as unhas dos pés, nem da dancinha ridícula que ele fazia ao tirar a cueca, nem do pote do xampu dele ao lado do pote do xampu dela, nem das bolachinhas que ela gostava e que ele trazia de uma lojinha lá perto do trabalho, nem da desafinação dele ao cantar Legião Urbana, nem da bala de alcaçuz que ele insistia em oferecer a ela mesmo ela dizendo todas as vezes já disse que não gosto de alcaçuz, nem da risadinha que ele dava depois que ela dizia pela enésima vez já disse que não gosto de alcaçuz. Era dele assobiando enquanto regava as plantas o que ela mais sentia falta. 

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