quarta-feira, 18 de março de 2015

Frio

Ela não encontrou as meias. Deveriam estar na gaveta, na gaveta de meias, mas há quanto tempo suas coisas não estavam onde deveriam estar?

Sentou-se na cama, os pés descalços, as botas de cano curto nas mãos, o frio do lado de fora, tentando lembrar-se da última vez em que encontrou o que queria no lugar onde deveria. Era difícil lembrar-se, pensou que uma xícara de café quente a ajudaria, mas onde estava mesmo a cafeteira? Talvez ele a tivesse levado em meio a tantas caixas com roupas, sapatos, cintos, livros, discos, envelopes, bolinhas de tênis, chaveiros, relógios, pastas com documentos, álbuns de fotos, meias!, talvez fosse isso, talvez as meias estivessem lá, ela não sabe onde, com ele, com a cafeteira, com tantos outros pedaços da vida dela.


Deitou-se na cama de onde tinha saído há pouco, os pés gelados, cobriu-se com a manta xadrez vermelho e azul, da qual ele tanto reclamava. Logo mais ligaria para o chefe. Teria febre. Teria mesmo. 

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