sexta-feira, 30 de maio de 2014

A maldição


Quando eu nasci o diabo decretou: você será capaz de amar com cada poro da tua pele o homem que dormirá com você, a criança que sairá do teu ventre e a que dorme na rua, teus amigos, teus irmãos, o gari que sorri desdentado enquanto trabalha, a mulher que vende bolo fresco na calçada para quem acordou às quatro da amanhã para pegar quatro conduções e ganhar um salário mínimo no fim do mês. Mas com a mesma intensidade – e cuidarei disso pessoalmente tua vida inteira –  você sentirá a dor, como uma agulha incandescente entrando em cada um desses mesmos poros. E você se contorcerá, gritará, implorará e não pegarei na tua mão. E você não vai entender quando alguém te pedir para pensar menos porque te farei pensar com as palmas das mãos, com as solas dos pés, com as pontas dos dedos, com a nuca, com o estômago, com os rins, com o coração, com a espinha dorsal, com a vagina, com o ânus, com os pulmões, e só um pouco, muito pouco, com o cérebro.

Um comentário: