segunda-feira, 18 de maio de 2015

Abre-te, gergelim

Entrou, fechou a porta com a chave, deixou a bolsa no sofá e sentou-se na poltrona com o tecido recém-trocado, de couro branco para veludo vermelho, de frente para a porta. A porta por onde ela poderia sair, com mala, ou malas, ou sem nada, só a bolsa com os documentos. Não queria trocar de nome, rosto, número do RG e CPF, passado. Queria, com o mesmo corpo, sair por aquela porta, sem data para voltar, ainda que soubesse que voltaria. Lá fora encontraria as antigas ilusões. Já os sonhos estavam pregados naquelas paredes e para eles ela (ainda) não queria dizer adeus. Só um até logo. Só umas férias, um tempo para transformar o ódio em tristeza, esse ódio duro que não deixava as lágrimas caírem enquanto ela olhava para a porta, que não – esqueça isso, minha querida – se abriria sozinha para ela sair. 

4 comentários:

  1. Nossa... não me perdoo por ter ficado tão longe de seus textos.
    Um dia eu disse: Lu, você é uma cronista que transpira poesia.... e de fato é.
    As vezes eu acerto. Que bom!!!!

    E que bom que você é assim: ótima demais....

    Abraços desse seu fã, que um dia humildemente você aceitou como amigo

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