A quentura do
salão no fim do dia, quando eu chegava e ele já estava lá: um livro aberto
sobre o colo, o cachimbo em uma das mãos, os óculos escorregando pelo nariz, as
pernas cobertas por uma manta de lã xadrez bege e marrom. Queria entrar feito
pluma trazida pelo vento para que ele não me percebesse e eu pudesse admirá-lo
naquela posição por, não sei, mais tempo, tempo que nunca seria suficiente. Mas
nunca consegui entrar feito pluma onde quer que fosse e ele então tirava os
olhos do livro, ajeitava os óculos e levantava a cabeça para me ver. Sorria. Um
sorriso discreto, mas tão aconchegante quanto a cena à minha frente. Eu sorria
de volta um pedido de desculpas, sem nada falar, só um aceno com a mão que ele
retribuía com uma quase imperceptível reverência. E tantas vezes meus pés
quiseram correr em sua direção, meus braços desejaram enlaçar seu pescoço, meus
olhos procuraram o título do livro em seu colo e minha boca ansiou por dizer
alguma palavra, uma que fosse, “oi”, por exemplo, ou “obrigada” – um agradecimento
seria mais verdadeiro; mas não. Continuei entrando com meu silencioso pedido de
desculpas, até sobrarem apenas o cachimbo e um livro fechado sobre a poltrona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário