Ela não entendia tudo, mas intuía um amor que queria para si. Amar tanto e de tanto amar achar uma mulher bonita. Ela não era bonita,
sabia, mas essa moça com um olho a boiar e outro a agitar, o que era isso? Feia
demais, ela pensava, mesmo sem conseguir visualizá-los. Pernas enroscadas, balé
esquisito, casar em Porto Rico, isso ela entendia e queria, sonhava com um
vestido branco e uma maquiagem que disfarçasse os buracos do seu rosto e
trouxesse seus olhos para a superfície. Se a mulher da música era tão mais
esquisita, um olho arregalando uma pepita, outro madrugando na bodeguita
(onde?), e conseguiu um homem para cantar uma música assim para ela, só para
ela, por que ela não conseguiria? Onde está meu homem, ela pensava enquanto
sonhava com o vestido e depois com um bebê e depois com uma canção feita para
ela, mesmo que ela quase nada compreendesse. Bastaria haver alguma soma de
olhar para se conhecer inteiro, mas isso nem precisaria estar na letra. Podia
estar só no olhar mesmo.
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