Deitei no chão da sala (não me lembro há quanto tempo não
fazia isso), um brinco em cada orelha. Ajeitei a almofada sob a cabeça e o
cobertor sobre o corpo. Era assim que fazia na casa dos meus pais, quando não
sabia que a vida adulta se resume ao pagamento de contas – e estava longe, tão longe, de saber. Melhor
tirar os brincos, pensei. Tirei o da orelha direita. E descobri que o da
esquerda já não estava lá. Durou pouco minha deitada no chão! De um pulo
procuro o brinco caído na almofada, lugar óbvio, mas não estava ali. Os brincos
são joias, presente da minha mãe, não quero perder o par. Começo a tatear o
tapete: nada. Reviro todas as almofadas: nada. Embaixo do tapete: nada. Tiro os
assentos do sofá: nada. Então eu não deitei com o brinco? Perdi na rua? Que
tristeza, o brinco que ganhei de minha mãe sendo pisoteado com a violência
típica desta cidade. Mas já perdi tantas pessoas e quando me lembro delas já
não sinto mais nada pelo brinco. Fujo para uma xícara de chá quente, que
resolvo tomar na varanda. Passo os olhos pelas flores que estão coloridas, as
folhas tão verdinhas me alegram e ali, perto de um vaso, brilhando, encontro o
brinco.
A sensação de perda, mesmo que seja de um pequeno pertence, é angustiante.
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
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