quinta-feira, 26 de junho de 2014

Lição do dia


Deitei no chão da sala (não me lembro há quanto tempo não fazia isso), um brinco em cada orelha. Ajeitei a almofada sob a cabeça e o cobertor sobre o corpo. Era assim que fazia na casa dos meus pais, quando não sabia que a vida adulta se resume ao pagamento de contas  – e estava longe, tão longe, de saber. Melhor tirar os brincos, pensei. Tirei o da orelha direita. E descobri que o da esquerda já não estava lá. Durou pouco minha deitada no chão! De um pulo procuro o brinco caído na almofada, lugar óbvio, mas não estava ali. Os brincos são joias, presente da minha mãe, não quero perder o par. Começo a tatear o tapete: nada. Reviro todas as almofadas: nada. Embaixo do tapete: nada. Tiro os assentos do sofá: nada. Então eu não deitei com o brinco? Perdi na rua? Que tristeza, o brinco que ganhei de minha mãe sendo pisoteado com a violência típica desta cidade. Mas já perdi tantas pessoas e quando me lembro delas já não sinto mais nada pelo brinco. Fujo para uma xícara de chá quente, que resolvo tomar na varanda. Passo os olhos pelas flores que estão coloridas, as folhas tão verdinhas me alegram e ali, perto de um vaso, brilhando, encontro o brinco.

Um comentário:

  1. A sensação de perda, mesmo que seja de um pequeno pertence, é angustiante.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

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