No prédio ao
lado do prédio em que moro, mora um homem. Vários homens. Mas há esse homem,
cabelos grisalhos, que toda noite coloca um avental vermelho sobre a calça e a
camisa social e cozinha para os amigos, regados com várias garrafas de vinho.
Ele cozinha, eles bebem, eles fumam, eles conversam; eles raspam o prato e
conversam mais. Nunca sobremesa. Sempre café. Sei que há música porque a luz do
aparelho de som fica acesa, azul, e só é apagada quando todos se vão. Fico
parada na janela da minha cozinha, vazia de amigos, comida e vinho, vazia de
amor, desejando secretamente que me vejam e me acenem num convite. Mas nunca me
viram ali, copo d’água gelada na mão e lágrimas nos olhos. Há muito naquela
cozinha para poderem me notar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário