Por que estou aqui?
...
Eu estou aqui não porque meu casamento rachou com a batida
da porta, nem porque tenho medo – não, medo eu tenho de perder o emprego e de
encontrar patinhas de barata na comida do restaurante; o que eu sinto é pavor,
uma indizível estremeção de ter que enterrar um filho; e nem estou aqui porque
me pergunto todos os dias “e se chover?”
Eu estou aqui por causa da bolha que habita o meu
estômago e de quando em quando se expande até a garganta e os dedos dos pés e
das mãos, me amaldiçoando por eu ter apenas esse espaço para oferecer. Mas
existem pernas e braços infinitos?
E quando sua inconformidade atinge a loucura, ela sobe
para a minha cabeça e se autoinflama, como uma criança que desejasse ganhar o
prêmio pela maior bolha de sabão já feita, soprando até o limite para não
estourar, o espaço exato onde nenhuma gota de ar a mais caberia.
Eu fico como um balão perdido sobre os homens,
aterrorizado com o azul que não está acima de nós, jogado pela ilusão a todos
os cantos de uma cidade que não reconheço, gritando numa língua que ninguém
decifra, até a bolha se autoesvaziar e me dar um pouco de tempo na concretude
em que também não me encaixo.
Comecei com chá de hortelã e de folha de maracujá,
passei para Maracugina e passiflora. Divã, quatro paredes e nenhuma palavra
solta. Lexapro e Rivotril. Uma poltrona, dois olhos em mim e os meus na janela.
Estou cansada estou cansada estou cansada – só tenho essas palavras que ninguém
entende para dizer. Ansiolíticos debaixo da língua e dentro da veia. Alimentei
a bolha com ar e cinzas.
Em nenhuma dessas caixas e cômodos encontrei o
homem do conserto. E hoje, ele veio?
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