Os sons de uma casa em silêncio não me deixam dormir. Uma
pomba resolveu fazer seu ninho no buraco do ar condicionado. O aparelho se foi,
não gosto de nada condicionado, e o buraco ficou, tapado com gesso, serviço mal
feito que não arrumo, assim como a porta quebrada do armário: é que há tanta
coisa mais urgente, como minha necessidade de dormir oito horas ininterruptas,
por exemplo. Mas o silêncio da noite é barulhento, como a pomba-mãe. Eu sei o
que é arrumar o ninho para os filhotes que vão chegar, dona pomba, eu também
arrastava minhas patinhas para lá e para cá até encontrar o melhor ângulo para
o berço. E depois ficava sentada olhando o berço vazio, imaginando a carinha de
quem viria habitá-lo. A senhora também suspira, eu escuto. Mas é que depois da chegada deles, dona
pomba, escute-me bem, muito bem, a senhora vai precisar dormir, assim como eu.
E serão tantos os sons e os ruídos para nos atrapalhar, que eu sugiro que a
senhora descanse um pouco agora. E me deixe descansar também. Podemos dividir
uma xícara de chá, se a senhora quiser.
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