terça-feira, 17 de junho de 2014

O engano

Ela apertou o botão do elevador, precisava sair daquele prédio, havia um engano. Ela não estava louca como o rapaz do quarto à esquerda, que dava bom dia, boa tarde e boa noite para as paredes com uma voz derretida. Ela sabia seu nome e sua data de nascimento, ao contrário da mulher do quarto em frente. Nem tinha passado uma lâmina nos pulsos como a garota do quarto à direita. Ela só queria dormir, descansar, parece que até deus descansou no sétimo dia. Dizem. Só que uma pílula não lhe trouxe o sono, nem duas, nem três, nem quatro, nem a perda da conta. Mas era só isso: descansar, como quem deita à beira do mar com os pés para cima, o olhar relaxado no horizonte. Por isso ela precisava deixar aquele prédio. Por isso ela apertou o botão. Porque havia um engano. Mas os homens de branco que a rodearam não entenderam assim. Nem quando ela gritou. Nem quando ela esperneou. Nem quando a trancaram de volta no quarto. Nem quando ela passou mais uma noite em claro, pensando nos filhos e dizendo baixinho, como quem reza, que era apenas um engano. 

Um comentário:

  1. Tava no hospício?!
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

    ResponderExcluir