Na geladeira da minha infância sempre tinha um pote de vidro
ou de plástico cheio de pedaços de coco, com aquela casca marrom e cabeluda,
boiando numa água levemente turva. Sempre que eu abria a geladeira o pote
estava lá; eu aproveitava para comer um pedaço. Mas eu sabia que sempre que
abrisse a geladeira encontraria o pote; não se tratava, então, de aproveitar a
oportunidade, mas de receber o conforto do pote com pedaços de coco que sempre
estava lá. Um dia o pote não estava mais na geladeira. Um dia minha mãe parou
de comprar coco. Um dia foi o último dia em que abri a geladeira e o pote com
pedaços de coco estava lá. E a angústia, que ainda me faz lembrar daqueles
pedaços de coco com água turva no pote, é de que não percebi quando os cocos
deixaram de estar na geladeira.
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