segunda-feira, 13 de abril de 2015

Domingos

O que era palpável –  nós dois, domingo à noite, na despedida para uma ausência de cinco, seis, sete ou quinze dias, aquele aperto oco e ciente de que dali a cinco, seis, sete ou quinze dias sumiria, quando nós, nós dois, nos tocaríamos novamente, nossas mãos, nossos pés, nossos narizes, nossos peitos, nossas barrigas, nossas coxas, nossos cabelos, nossos lábios, nossas risadas, nossos braços, nossos dedos – agora é só uma sombra. Não enxergo mais a tristeza antecipadamente saudosa. Penso que vi um rato entrando no forno, mas não; não há nada ali. O que ainda hoje é palpável, outro domingo depois de tantos e tantos domingos, agora com as crianças na sala – não nossas: não há mais nada nosso, nem sonho – é só o aperto oco. Esse, penso agora, enquanto as crianças jogam as almofadas no chão e sujam o tapete com suco de uva e eu espero a água do macarrão ferver, esse aperto oco da noite de domingo, em vinte anos, foi o único a não me abandonar. 

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