Nonada. Eu não deveria nem tentar pensar em começar a
escrever o quer que fosse se alguém já escreveu um romance que começa
exatamente assim: - Nonada. Porque tenho o nada, mas não o no. E nada consigo
juntar ao nada porque o nada que carrego preenche todos os espaços de onde poderia
surgir o no. Carrego o nada até nos meus sapatos, na meia-calça que visto em
dias frios, no elástico que prende os fios do meu cabelo que não consigo manter
solto e balançante, no vão entre a aliança e o meu dedo anelar da mão esquerda.
Um homem e uma mulher se batiam hoje na praça, quando nem as pombas haviam
acordado. O nada que carrego nos meus sapatos doeu, mas, ainda assim, não
consigo encontrar o no para uni-los.
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