segunda-feira, 2 de julho de 2012

Com os pés no tempo do ser

A terra acolhedora de pedregulhos desconhecidos carregados pelo passado, a mangueira gestante de frutos que não lhe pertencem, o pássaro ávido por uma minhoca sorvida por um chão faminto, o sol escondido por uma nuvem empurrada pelo vento que tentou dizer que era seu amigo, mas ela não ouviu porque estava com os pés para o alto sendo.

Nem feliz nem triste. Nem inquieta nem tranquila. Apenas era. Como a manga verde pendurada no tronco onde amarraram a corda balançante. O tempo em forma de vento sussurrava que era dela enquanto brincava com seus cabelos. O chão se aproximava e se afastava se aproximava e se afastava dos seus pés feitos para tocá-los (será?). Alguém dentro dela ria e fazia cócegas na sua barriga. Vrum...ela ia...vrum...ela vinha...vrum...vrum...o tempo disse que era seu amigo. Ela não escutou porque um raio de sol ia queimar sua retina se ela não piscasse.

Ela era os pés jogados no ar, as mãos molhadas, o estômago vazio, os olhos lacrimejantes, os cabelos espalhados, os pelos arrepiados, os braços adormecidos, o olhar no horizonte, a fruta esperando o tempo de cair, o farfalhar da mangueira nos seus ouvidos, o zumbido da abelha, as nuvens que protegiam sua pele, o medo de cair e a certeza do chão logo abaixo...ela era o silêncio brincando de viver. Vrum...eu sou seu amigo, mas ela não escutou porque uma fruta ameaçou cair antes de amadurecer.

Não sabia o que poderia acontecer e sabia que nada iria acontecer. A manga se segurou, ela também conhecia o seu tempo. Era preciso esperar o doce suficiente. Suficiente para quê? Para ser doce apenas. O pardalzinho riu, ele também sabia. Vrum...ei, me escute, eu sou seu amigo, mas uma mecha se enroscou nos seus dentes que também sabiam ser só de leite.

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