Uma tarefa enfadonha e
ingrata era o que a salvaria dessa tarde que parecia não acontecer. Estava
cansada do etéreo, precisava lavar, passar, cozinhar, arrumar, limpar e dormir
com as unhas das mãos esfareladas, sem pensar no horário da manicure e nas
unhas perfeitamente pintadas da vizinha. Esvaziou o cesto de roupas sujas, separou
as brancas das pretas e das coloridas. Resolveu lavar algumas camisas e uma
saia na mão, deixou-as de lado, em reserva, como na receita do bolo que faria
(talvez) mais tarde para as crianças. Jogou as brancas na máquina, não seguiu
as instruções para o uso do sabão e do amaciante - precisava de alguma
autonomia, escolheu o ciclo não delicado e ficou observando a água cair na
tina para logo depois preparar o varal. Desconfiava das secadoras e tinha medo
das panelas de pressão. Por causa deste não faria uma sopa para o jantar.
Macarrão era sempre mais fácil. E certo. Pegou a saia nas mãos, olhou para o
tanque e não sabia o que fazer com um e com outro - e com os dois juntos. Reservou a saia um pouco mais. Para
mais tarde. Talvez para amanhã. Ou para a lavanderia. As roupas brancas eram o
começo – do quê? Ligou a TV, fez um café, abriu uma revista de moda, outra de
decoração, outra de atualidades. Fechou todas. Separou as camisas do marido
para a tinturaria. Lavá-las na mão não era a única forma de mostrar seu amor. Entrou
debaixo do chuveiro e chorou.
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