terça-feira, 3 de julho de 2012

Justine



Abriu a porta do armário. Vestidos, saias, calças, blusas, cintos, lenços e sapatos para vestir o quê? A tela do celular acendeu no criado-mudo. Quem definiu, afinal, o bom tamanho de um pênis? E o peso e a medida das mulheres? Uns alargam outras encolhem e o celular também mostra um relógio inventado para marcar um tempo que não é o dela. Quantos segundos para um cabelo embranquecer, uma ruga crescer e um coração se recuperar? Todos os dias na mesma hora no mesmo lugar em troca de um salário inventado por um sistema criado para custear invenções de necessidades que não são (são? não são? são? não são?) suas. Qual o preço da sua unidade? Os sapatos apertam os seus pés. Quem definiu o valor do ouro, da prata e do bronze? Secador para os cabelos, cores para lábios, olhos e unhas, a televisão ligada em mais de cem canais, cremes para evitar o inevitável. Receitas de psiquiatras para a felicidade. Sorria, você está sendo filmado. Rodou o quarto à procura do não inventado. Ergueu os olhos para a invenção máxima já incapaz de confortá-la. Onde estavam suas apólices? Queria a nudez do mundo. Arrancou o roupão e olhou-se toda no espelho. Só sua pele se descolando dos músculos era genuinamente verdadeira. Mentirosos! MENTIROSOS! O cachorro acordou com o grito e sem desviar o olhar das lágrimas tão conhecidas, mudou de posição para voltar a dormir.
* imagem do filme Melancholia, de Lars von Trier.

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