Se gritasse
poderia despertar a curiosidade dos outros passageiros, mas a revelação que
recebera não poderia ser partilhada com aquelas pessoas – nem com ninguém. A
descoberta era só dela. Por isso gritou em silêncio enquanto via pela janela um
pedaço do (a)mar onde se banhou por pouco mais de uma hora, tempo suficiente
para uma mudança irreversível nas suas entranhas. O avião decolou, ela fechou
os olhos e as mãos, numa tentativa de aprisionar o que tinha acabado de viver.
O homem na poltrona ao lado com suas palavras cruzadas pensou que fosse por
medo e tentou acalmá-la. Ela não se mexeu. Não podia correr o risco de perder o
que trazia dentro dos olhos e das mãos. O avião pousou na cidade conhecida
poucas horas depois. Ela voltou para sua rua, sua casa, seu quarto, sua cama,
mas ainda continua imóvel.
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ResponderExcluirMuito Legal! Muitos possuem esse segredo. Eu tenho outros...
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