domingo, 29 de julho de 2012

O segredo

Se gritasse poderia despertar a curiosidade dos outros passageiros, mas a revelação que recebera não poderia ser partilhada com aquelas pessoas – nem com ninguém. A descoberta era só dela. Por isso gritou em silêncio enquanto via pela janela um pedaço do (a)mar onde se banhou por pouco mais de uma hora, tempo suficiente para uma mudança irreversível nas suas entranhas. O avião decolou, ela fechou os olhos e as mãos, numa tentativa de aprisionar o que tinha acabado de viver. O homem na poltrona ao lado com suas palavras cruzadas pensou que fosse por medo e tentou acalmá-la. Ela não se mexeu. Não podia correr o risco de perder o que trazia dentro dos olhos e das mãos. O avião pousou na cidade conhecida poucas horas depois. Ela voltou para sua rua, sua casa, seu quarto, sua cama, mas ainda continua imóvel.

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