terça-feira, 9 de julho de 2013

Todas as cartas de amor são mesmo ridículas


Eu me apaixonei por você, desculpe-me. Desculpe-me? Não! Sou eu quem devo te perdoar. Eu não estava disposta, nem mesmo me lembrava que paixão é vírus (justo eu, que lavo as mãos incontáveis vezes ao dia e carrego na bolsa pelo menos dois frasquinhos de um gel capaz de matar 99% dos germes). É você quem me deve desculpas por ter esburacado as minhas madrugadas. Por ter colocado tantos chios na minha corrente sanguínea. Pelo formigamento na sola dos meus pés e na palma das minhas mãos. Pela gota de suor que desce pelas minhas costas em dias invernais. Se eu conseguisse voltar no momento exato da paixão, mas é difuso...não sei se foi a prata escura do anel no teu dedão da mão esquerda, teus olhos vermelhos antes de espirrar, o molho que você tirou do canto da boca com a língua, tua leitura lenta, tua letra apressada, o samba que você batucou desafinado no joelho direito. Mas eu não acredito no perdão, nem em Deus, nem em reza. No esquecimento, talvez, eu acredite. E nas cartas ridículas, sim, nas cartas ridículas eu acredito. 

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