quarta-feira, 31 de julho de 2013

Duerme, duerme, mobila

Os enjôos vinham em ondas tsunâmicas, trazendo dejetos que se recusavam a atravessar os dentes de sua boca pintada de vermelho. Sob o sol do meio-dia quase desmaiou na calçada ao lado de um mendigo, receosa de sujar o único bem daquele homem: um cobertor mijado e translúcido. Não vomitou no cobertor. Nem no mendigo. Nem em lugar nenhum. A calçada continuou suja de outros homens, outras mulheres e alguns cachorros. Não poderia continuar trabalhando, nem as paredes a escoravam. Cinco quarteirões até seu apartamento. Dez passos até sua cama, dessa vez sem olhar para o espelho da penteadeira. Não viu que a flor amarela havia caído dos seus cabelos. Foi só à noite, quando já dormia, que uma gorda e peluda ratazana escapou de suas entranhas. 

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