quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dia de Natal

Às vezes, penso que escrevo para este pé.
(António Lobo Antunes)





Porque um coração de mãe vive rasgando, milimetricamente sendo rasgado, diariamente, mente, mente, mente, as perninhas magrelas sendo ajeitadas na prancha pelos bombeiros, uma estrada vazia, um carro amassado com as rodas para cima, uma mulher tremendo no canteiro, e as perninhas, as perninhas na prancha, as perninhas amarradas, as perninhas que não poderiam ser machucadas, deus?, é dia de natal, deus?, as crianças deveriam ganhar abraços, beijos, presentes e comida quentinha, as perninhas vistas de longe mas o suficiente para aparecerem no meu sonho, na salada do meu almoço, no sabonete na pia, nas linhas de um caderno em branco. 

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