Às vezes, penso
que escrevo para este pé.
(António Lobo Antunes)
Porque um
coração de mãe vive rasgando, milimetricamente sendo rasgado, diariamente,
mente, mente, mente, as perninhas magrelas sendo ajeitadas na prancha pelos
bombeiros, uma estrada vazia, um carro amassado com as rodas para cima, uma
mulher tremendo no canteiro, e as perninhas, as perninhas na prancha, as
perninhas amarradas, as perninhas que não poderiam ser machucadas, deus?, é dia
de natal, deus?, as crianças deveriam ganhar abraços, beijos, presentes e
comida quentinha, as perninhas vistas de longe mas o suficiente para aparecerem
no meu sonho, na salada do meu almoço, no sabonete na pia, nas linhas de um
caderno em branco.
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