quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Filhos do acaso

Lá vem ela de novo, as veias cinzas e gordas dos pés quase rasgando a pele, um saco plástico transparente sobre camadas de roupas escuras da sujeira das ruas, os cabelos duros como pelos de ratazanas, a pele do rosto sulcada e em cada sulco o cheiro da indigência: mijo, merda e feijão podre. Ela me estende a mão, a náusea se enrola na minha língua, ela me chama de filha, o que eu não sou - minha mãe tem a pele clara e limpa e cheirosa e não anda pelas ruas com as mãos estendidas - mas poderia ter sido. Por que eu não poderia ter sido?

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