Lá vem ela
de novo, as veias cinzas e gordas dos pés quase rasgando a pele, um saco
plástico transparente sobre camadas de roupas escuras da sujeira das ruas, os
cabelos duros como pelos de ratazanas, a pele do rosto sulcada e em cada sulco
o cheiro da indigência: mijo, merda e feijão podre. Ela me estende a mão, a
náusea se enrola na minha língua, ela me chama de filha, o que eu não sou - minha mãe tem a pele clara e limpa e cheirosa e não anda pelas ruas com as mãos estendidas - mas
poderia ter sido. Por que eu não poderia ter sido?
Nenhum comentário:
Postar um comentário