quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Prometo dizer a verdade

Invejei o sono dele desde a primeira vez em que dormimos juntos. Dezenove anos e dez meses. O dia ainda não havia me deixado e já ouvia a respiração ao lado, profunda e compassada, como se nunca nada fosse capaz de aborrecê-lo. Dezenove anos e dez meses com uma respiração sempre com...pas...sa...da...men...te indolor. Tantas noites me contorci na cama para terminar com a cabeça sufocada entre os joelhos envoltos nos meus braços. E ele respirava. Naquela noite, eu só precisava ouvir um grito dele, desesperado e derradeiro, com um pedido de desculpas. Eu queria aquele grito, precisava daquele grito: estava cansada dos seus silêncios. E se não o salvei foi porque o arrependimento veio com o mesmo atraso inócuo do pedido de desculpas.


Que me levem a júri, me condenem, me encarcerem, me batam, me pisem, me arranquem a pele. O meu alívio é saber que o mundo não o carrega mais.

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