Invejei o sono
dele desde a primeira vez em que dormimos juntos. Dezenove anos e dez meses. O
dia ainda não havia me deixado e já ouvia a respiração ao lado, profunda e
compassada, como se nunca nada fosse capaz de aborrecê-lo. Dezenove anos e dez meses
com uma respiração sempre com...pas...sa...da...men...te indolor. Tantas noites
me contorci na cama para terminar com a cabeça sufocada entre os joelhos envoltos
nos meus braços. E ele respirava. Naquela noite, eu só precisava ouvir um grito
dele, desesperado e derradeiro, com um pedido de desculpas. Eu queria aquele
grito, precisava daquele grito: estava cansada dos seus silêncios. E se não o salvei
foi porque o arrependimento veio com o mesmo atraso inócuo do pedido de desculpas.
Que me levem a
júri, me condenem, me encarcerem, me batam, me pisem, me arranquem a pele. O
meu alívio é saber que o mundo não o carrega mais.
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