terça-feira, 1 de abril de 2014

Infâncias

Quando eu tinha uns quatro anos, minha mãe anunciou: vamos ver a Emília e o Zeca! Eu fui radiante no carro, mas quando cheguei à casa dos meus tios-avós, abri um berreiro inconsolável: onde, afinal, estavam a Dona Benta, a Tia Nastácia, a Narizinho e o Pedrinho?

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Quando eu tinha uns cinco anos, o vizinho trouxe um videocassete dos Estados Unidos, aparelho raro de se ver nos lares brasileiros. Agora podemos assistir a um filme sem ir ao cinema, meu pai me explicou. E contou que naquela noite haveria uma sessão na casa do vizinho: veríamos Super Homem. Fomos a pé para a sessão: minha mão esquerda na mão direita do meu pai e minha mão direita na mão esquerda da minha mãe. Foi no caminho que meu pai revelou o maior segredo de todos os tempos: a história que vamos ver é a minha...eu sou o Super Homem!...mas você não pode contar para ninguém. Depois dessa noite eu passei anos olhando para os meus avós paternos e pensando: que pena, queria tanto que eles fossem mesmo meus avós verdadeiros.

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Quando eu tinha uns sete anos, a professora nos explicou que os seres humanos estavam divididos em quatro raças: branca, negra, amarela e vermelha. Eu olhei bem para a pele dos meus braços, bem mesmo, e confirmei: professora, eu sou amarela.

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