quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ivan e Marja






O marido foi pra guerra, deixando a terra, ela, a poesia e os filhos esperando. Um dia voltou, chorou: matei um homem...era ele ou eu e eu tenho vocês, não perguntei quem ele tinha, se perguntasse talvez não mataria...e você estaria chorando, mais, agora. E foi pra guerra de novo, deixando um filho na barriga dela. Quando voltou de novo, não havia mais guerra, nem terra, nem trabalho, nem comida. E do lado de lá parece que há promessas, de terra, de trabalho, de comida, de paz. Vamos? Mas onde é lá? Brasil. E onde fica o Brasil? Lá. E que língua falam lá? Não sei. E foram. E das promessas, havia trabalho na terra dos outros com dinheiro só para os outros. Ele, ela e os filhos dividindo o curral com as vacas. Vamos embora? Como? De trem. Pra onde? São Paulo. Onde é São Paulo? Pra lá. Lá onde? Não sei. E foram. Fugidos do dono da terra com um pouco de dinheiro arrancado sob ameaça – não se sabe do quê. E chegaram. E ficaram. E ali morreram: ele antes, ela muito depois, sem nunca mais verem a Croácia. 

2 comentários:

  1. Um texto bem triste, mas infelizmente a realidade de muitos ainda nos nossos dias.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br/

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  2. Lu da mesma nacionalidade e o coração com os mesmos sonhos, meus avós fizeram a mesma viagem, porém preocupada, minha avó enviou de volta aos cuidados do irmão de 18, o filho de 5 anos. Nunca mais o viu! Ele cresceu analfabeto rejeitado pelas tias e acabou se fixando no que antes foi a Alemanha comunista. Provavelmente minha avó morreu cedo de tanto desgosto. Como mãe hoje me coloco no lugar dela e penso em algo do tipo A Escolha de Rosalia!

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