Eles nasceram
com seis meses de diferença. Ele antes. Viram o crescimento um do outro: casas
vizinhas, mesma escola e sala de aula, inclusive com professores tentando
separá-los: falavam demais. E quando brigavam cortavam as pontas dos cabelos um
do outro. Mesma escola de natação e de inglês. Muitos amigos em comum. As
mesmas festas. Ele era bom em Matemática e Física. Ela em História e Português.
E na adolescência ela se apaixonou por ele. E pouco tempo depois ele por ela. E
ela descobriu que se apaixonar era ter uma montanha-russa no estômago, justo
ela, que adorava os riscos dos parques de diversão. Ele foi o primeiro a
beijá-la. E explicou tudo. Contava das outras meninas que já havia beijado,
umas mais novas, outras mais velhas. Explicou para ela a diferença entre ser
bonita, gostosa e bacana. E explicou também o que era ser tudo isso ao mesmo
tempo. Depois se apaixonaram por outras pessoas. E dividiam as alegrias e as
tristezas. Ela mais as tristezas do que ele. Quem quer tudo por inteiro sofre
mais - talvez. E ele explicava como conquistar um menino, o que fazer e o que
não fazer. Tentava protegê-la e oferecia os ombros quando ela se machucava.
Passavam muitas tardes abraçados, deitados no gramado, falando de sonhos.
Desejavam a alegria do outro. E isso era bom, tão bom: um amigo e uma amiga. E
um dia os quilômetros se colocaram entre eles. Assim: se colocaram. E ela às vezes sente saudade das
risadas. Mas em dias como hoje, quando ela está acossada num canto, pequenina e
doída, ela tem vontade de pedir mais uma explicação. Sobre alguma coisa que ela
não entendeu.
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