sábado, 23 de fevereiro de 2013

Morte


Um espasmo no útero anuncia minha morte. Tua língua despeja o veneno que me matará aos poucos. Um frêmito nas pernas começa a me transportar para fora de mim. E desse mundo. Mais um leve tremor no ventre e você, tão próximo, passa a ser apenas uma sombra. Meus olhos rodam como duas piorras, as mãos começam a pesar mais do que meu próprio corpo. Já não me pertenço.

Quero me agarrar a um fio de vida. Encontro teus cabelos negros e grossos. Quanto mais resisto mais você me envenena. Jogo meus calcanhares contra tuas costelas. Você continua firme no teu propósito. Desço as mãos até teus ombros e guardo um pouco da tua pele sob as minhas unhas. Meus dedos amolecem, morrerão antes de mim. Urro tão alto que ninguém me escuta.

Tua língua libera ainda mais veneno. Vibro enquanto você me devora. Quero fugir, tento mexer minhas pernas com a força que ainda me resta. É inútil lutar. Peço socorro em vão. Alcanço teu rosto, teu suor, teus braços, teus ombros, tuas costas, quero te levar comigo para o precipício em que você está prestes a me lançar. Procuro teus olhos em desespero, mas já não os encontro. Estou caindo. Ca...indo. Tento me apegar a algo de concreto que já não existe mais. Passei para outro estado: líquido ou gasoso? Não posso mais, não consigo fazer qualquer movimento, a não ser estremecer nesse gozo que me fará nascer mais uma vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário