terça-feira, 29 de março de 2016

A praça

Ela precisava atravessar a praça para chegar ao ponto de ônibus, não havia outro caminho. Poderia rodear a praça, mas fugir dela era impossível. Respirou fundo. Afinal, o que mais pode fazer uma pessoa quando se depara com o inevitável? Já parou para pensar se todos os acontecimentos de uma vida fossem evitáveis? Ela não, não tinha tempo para pensar sobre essas coisas, não há metafísica que resista a uma pia cheia de louça suja e a uma lista de credores que têm o seu endereço e número de telefone. Então ela fez o que todo mundo faz: respirou fundo e atravessou a praça. Mas não assim, “atravessou”. Antes de atravessar, antes de chegar ao ponto de ônibus, ela parou, sentou no primeiro banco que viu, ao lado de um senhor que vendia canetas Bic a um real cada, e vomitou. Vomitou o arroz, o feijão, a carne moída, a alface e o tomate do almoço, vomitou o pão com manteiga e o café com leite do lanche da tarde, vomitou as duas horas em quatro ônibus, vomitou um passarinho que se escondia no seu estômago e só depois, depois de se limpar sozinha sem ajuda de ninguém que passava pela praça, foi. E atravessou. 

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