quinta-feira, 10 de março de 2016

Sigo procurando Deus



Desde a manhã de ontem eu já fui ao fórum, tomei café em duas padarias diferentes, busquei as crianças na escola, almocei, trabalhei no escritório, jantei em uma terceira padaria, fiz lição de matemática com meu filho mais velho, alimentei os gatos, vi um pouco de desenho com meu filho mais novo, dei remédio para os gatos, li Nélida Piñon, coloquei meus filhos na cama, li mais Nélida, tomei banho, li o livro do Papa, dormi, acordei de madrugada com meu filho na cama, voltei a dormir, acordei com meu segundo filho na cama, não dormi mais, saí da cama, rodei pelo apartamento, acordei meus filhos, troquei a roupa dos meus filhos, dei leite para os meus filhos, escovei os dentes dos meus filhos, tomei banho, levei meus filhos na escola, tomei café em uma quarta padaria, fui à manicure, comprei areia para os gatos, tomei chuva, tomei outro banho, estudei, busquei as crianças na escola, almocei, trabalhei no escritório, tomei mais café, perguntei para o meu marido por onde ele anda, comi um bombom, uma torta de morango e uma bomba de chocolate com mais café, respondi a dezenas de e-mails, entrei no Facebook, fiz xixi várias vezes, mas desde ontem, desde que cheguei ao fórum, desde o segundo em que pisei na calçada do fórum, tudo o que eu faço é pensar na maldita coincidência que me colocou frente a frente com aquela mulher na calçada, aquela mulher meio loira meio ruiva com um bebê meio loiro meio ruivo no colo, encardido, com a cabeça pendente para trás, com um pescoço que não conseguia manter a cabeça firme sobre ele e uma boca aberta feito bico de passarinho no ninho enquanto a mãe espremia pela goela abaixo daquela criança meio-mole-meio-viva metade de uma laranja seca.

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