Há anos, alguns já, sonho chegar em casa, colocar as crianças
na cama e deitar no sofá para ver um filme, um filme que me faça feliz e me dê
esperanças por uma ou duas horas, mas há anos, alguns já, chego em casa e dou
abraços e beijos e sento no sofá para ver um pouco do desenho deles, desenhos
dos quais não gosto, e o sofá não é mais meu, e a tevê não é mais minha e o
tempo não é mais meu, e depois do desenho deles começa a briga para tomar o
leite em menos de quarenta minutos, e escovar os dentes, e colocar na cama, e
já não dá mais tempo para ler histórias, mas a gente não dorme sem uma
história, e lá se vai uma história e eu, sem sonhos, capotada na cama de um
deles, para acordar uma ou duas horas depois sobressaltada, restando-me apenas
escovar os meus dentes, colocar o meu pijama e cair de novo na minha cama,
sonhando com o dia em que chegarei em casa e me encontrarei de novo, para
juntas vermos algum filme que nos faça felizes e nos dê esperanças, por pelo
menos uma ou duas horas.
Hoje, lembrei-me agora, sonhei com uma aranha preta, peluda,
grande, bem grande, do tamanho de um sapo-boi, e ela queria me atacar. Deve ter
conseguido.
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