Eu tinha entre quinze e dezessete anos. A aula era de língua
portuguesa, das poucas que me atraíam. A menina sentada numa das primeiras
carteiras estava quieta, olhando para a apostila certa aberta na página certa,
tudo conforme o professor havia pedido. Tudo perfeito, não fossem os olhos dela
perdidos em algum lugar da sua mente. O professor interrompeu a aula para
exigir dela a atenção devida. Mas eu estou prestando atenção, ela respondeu.
Não está, o professor insistiu. Olha aqui, ela continuou, a apostila aberta na
página certa, e não estou falando com ninguém, estou quieta olhando para a
página. Mas não está atenta, o professor encerrou a discussão e continuou a
aula. Por pouco tempo, já que os olhos da menina continuavam em algum lugar
fora não daquela apostila, mas daquela sala de aula. E ela explicou mais uma
vez que estava quieta, que estava com a apostila aberta na página certa, mas
para ele não era suficiente: você precisa prestar atenção. E voltou à aula, de
novo por pouco tempo. E de novo a mesma discussão: quieta, apostila, página,
atenção. Eu era ela nas aulas de exatas. Ela era eu nas aulas de biológicas. Foi
então que falei, sem nem mesmo levantar a mão: mas, então, professor, como o
senhor acha que vai obrigá-la a prestar atenção? E, claro, tomei um esfrega por
abrir a boca sem que a palavra me fosse dada. E hoje, enquanto estava parada
num trânsito de causar pânico em qualquer lama, perdida nos caminhos que a
mente traça em momentos como esse (ou em
qualquer outro momento), me lembrei dessa discussão entre o professor de língua
portuguesa e a menina da primeira fila, na qual me meti sem ser
chamada. E então me assustei com a quantidade de anos em que acredito que
ninguém consegue obrigar alguém a aprender.
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