A ira me
alimenta. Por isso saio na chuva à caça de relâmpagos: minhas veias abertas na escuridão
de um céu tão incapaz de me acolher na sua infinidade. Grito com cada trovão:
quero o desenho do meu sangue no clarão: venha! O desgrenhar dos cabelos enroscados nos dentes. A água nos olhos, ouvidos, boca
e narinas. Rio. Rio vermelho. Rio vermelho e alto a ponto de me chamarem de louca. Quem se importa
quando se tem as veias abertas? E quem não tem? Escute: ... . Nossos sangues
misturados numa torrente, a lavagem do meu corpo, dos nossos corpos: o meu e o
teu: meu desconhecido. A ira me alimenta, mas o amor também.
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