quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ouviu?

A ira me alimenta. Por isso saio na chuva à caça de relâmpagos: minhas veias abertas na escuridão de um céu tão incapaz de me acolher na sua infinidade. Grito com cada trovão: quero o desenho do meu sangue no clarão: venha! O desgrenhar dos cabelos enroscados nos dentes. A água nos olhos, ouvidos, boca e narinas. Rio. Rio vermelho. Rio vermelho e alto a ponto de me chamarem de louca. Quem se importa quando se tem as veias abertas? E quem não tem? Escute: ... . Nossos sangues misturados numa torrente, a lavagem do meu corpo, dos nossos corpos: o meu e o teu: meu desconhecido. A ira me alimenta, mas o amor também. 

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