segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Solo le pido a Dios

Todas as pessoas que estavam na praia naquele fim de tarde, umas vinte ao longo de dois quilômetros, aproximadamente, repararam naquela mulher tão destoante da população local, pele translúcida, olhos de um azul doído, cabelos loiros e lisos até a metade das costas, tão alta quanto o voo da gaivota, que chorava. Todas as pessoas repararam, mas ninguém parou. Ninguém falou. Ninguém ouviu. Todos entenderam que aquela mulher que parecia caída de uma nuvem forasteira precisava ficar ali, tão transparente quanto sua pele. Todos entenderam que ela precisava acariciar a espuma do mar com os pés. Se alguém ali já tivesse visto uma bailarina clássica, teria reconhecido uma naqueles pés com peitos tão curvados e solas tão machucadas, com fendas incapazes de serem coladas. Todos entenderam quando ela caminhou lentamente para o horizonte, braços abertos, olhos à procura da nuvem de onde tinha caído. E escureceu. E ninguém foi atrás. Porque todos ali sabiam o que é ter raízes, mesmo que elas venham de cima.

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