Todas as pessoas
que estavam na praia naquele fim de tarde, umas vinte ao longo de dois quilômetros,
aproximadamente, repararam naquela mulher tão destoante da população local,
pele translúcida, olhos de um azul doído, cabelos loiros e lisos até a metade
das costas, tão alta quanto o voo da gaivota, que chorava. Todas as pessoas
repararam, mas ninguém parou. Ninguém falou. Ninguém ouviu. Todos entenderam
que aquela mulher que parecia caída de uma nuvem forasteira precisava ficar
ali, tão transparente quanto sua pele. Todos entenderam que ela precisava acariciar a espuma do mar com os pés. Se alguém ali já
tivesse visto uma bailarina clássica, teria reconhecido uma naqueles pés com peitos
tão curvados e solas tão machucadas, com fendas incapazes de serem coladas. Todos
entenderam quando ela caminhou lentamente para o horizonte, braços abertos, olhos à procura da nuvem de onde tinha caído. E escureceu. E
ninguém foi atrás. Porque todos ali sabiam o que é ter raízes, mesmo que elas venham de cima.
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