E numa noite de
lua e estrelas parcialmente visíveis, você se deita e se encolhe numa cama de
outro lado vazio. Aperta uma mão contra a outra numa prece, mas nada sai do seu
coração. Você tenta se dirigir a Deus, pergunta-se se há alguém escutando,
alguém que tenha rosto, corpo, voz, vontade. Procura por alguém conhecido, um
avô morto, talvez, na esperança de que ele paire ao seu redor num campo de
proteção contra a dor, fecha os olhos para enxergá-lo melhor, mas não há
ninguém quando seus olhos se abrem. Pensa num animal de estimação, num amigo
também enterrado, alguém, alguém mais próximo do que Deus para garantir que
essa dor também vai morrer. Suas mãos suadas puxam seus joelhos contra o peito,
sua coluna se curva e você tenta se fechar como os tatus-bolas nas mãos da sua
infância, tenta se lembrar do útero materno, mas você foi expelido há tanto
tempo. Pensa que se pensar em alguém com força, muita força, esse alguém poderá
ouvir seu chamado e se materializar no espaço vazio da cama, repete o nome
desse alguém baixinho até sua língua enrolar, uma súplica para que esse alguém
venha, pois sozinho você não vai aguentar, mas ninguém vem e a lua e as
estrelas continuam parcialmente visíveis. Ninguém prova a existência de Deus,
ninguém sabe onde estão os mortos – mesmo os seus mortos, só você abraça o seu corpo e
sente que se desintegrará, você até deseja se desfazer em pedacinhos tão
pequenininhos para que nunca mais sejam juntados. Não há Deus, não há mortos,
não há vivos. Terrivelmente, só há você.
Eu tô aqui Lu !!!! <3
ResponderExcluir