terça-feira, 6 de agosto de 2013

Madrugada

E numa noite de lua e estrelas parcialmente visíveis, você se deita e se encolhe numa cama de outro lado vazio. Aperta uma mão contra a outra numa prece, mas nada sai do seu coração. Você tenta se dirigir a Deus, pergunta-se se há alguém escutando, alguém que tenha rosto, corpo, voz, vontade. Procura por alguém conhecido, um avô morto, talvez, na esperança de que ele paire ao seu redor num campo de proteção contra a dor, fecha os olhos para enxergá-lo melhor, mas não há ninguém quando seus olhos se abrem. Pensa num animal de estimação, num amigo também enterrado, alguém, alguém mais próximo do que Deus para garantir que essa dor também vai morrer. Suas mãos suadas puxam seus joelhos contra o peito, sua coluna se curva e você tenta se fechar como os tatus-bolas nas mãos da sua infância, tenta se lembrar do útero materno, mas você foi expelido há tanto tempo. Pensa que se pensar em alguém com força, muita força, esse alguém poderá ouvir seu chamado e se materializar no espaço vazio da cama, repete o nome desse alguém baixinho até sua língua enrolar, uma súplica para que esse alguém venha, pois sozinho você não vai aguentar, mas ninguém vem e a lua e as estrelas continuam parcialmente visíveis. Ninguém prova a existência de Deus, ninguém sabe onde estão os mortos – mesmo os seus mortos, só você abraça o seu corpo e sente que se desintegrará, você até deseja se desfazer em pedacinhos tão pequenininhos para que nunca mais sejam juntados. Não há Deus, não há mortos, não há vivos. Terrivelmente, só há você. 

Um comentário: